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Durante os 12 anos do seu pontificado, Francisco soube refletir sobre a comunicação de forma estratégica e, acima de tudo, humana. Desde 2014, quando as cartas para o Dia Mundial das Comunicações Sociais aram a ser escritas pelo Papa Francisco, temas primordiais e sensíveis à comunicação eclesial se tornaram pautas necessárias, sendo lembradas com seriedade e urgência.
Francisco foi contemporâneo em assuntos delicados no ambiente comunicacional, soube alcançar os meios clássicos e as mais novas tecnologias trazendo à sociedade, sobretudo aos profissionais de comunicação, a responsabilidade em todo ato de comunicar.
Enquanto Pastoral da Comunicação, uma pastoral transversal na Igreja, é imprescindível permear as reflexões de Francisco e relembrar a nossa missão. Vamos recordar como ser um comunicador missionário em nossa Igreja segundo Papa Francisco?
“Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro” m566g
Logo no início do seu pontificado, Papa Francisco destacou pontos necessários que refletem uma comunicação humana e humanizada. Ele acenou um paradoxo da proximidade, ou seja, apesar dos avanços tecnológicos, ainda há grandes divisões e exclusões sociais no mundo. Com isso, ele quer dizer que, ainda que a comunicação possa aproximar pessoas, promover solidariedade e reforçar e unidade da família, é preciso superar os muros, praticar a escuta verdadeira e o diálogo, que são caminhos para construir proximidade.
Comunicar indica disposição para dar e receber, é o que defende Francisco na carta escrita para o Dia Mundial das Comunicações de 2014. Encarar a Internet como um dom de Deus é, também, assimilar que as redes sociais podem ser um espaço de encontro e solidariedade, mas se forem usadas com responsabilidade. O desafio está naquilo que a própria tecnologia oferece, pois nem todas as pessoas, até hoje, possuem total o aos meios de comunicação digitais, o que gera um risco de se ter uma sociedade ainda mais marginalizada.
É se inspirando no Bom Samaritano que, segundo o Papa, o comunicador se faz próximo, atua com compaixão, usufrui do ambiente digital para privilegiar um espaço de humanidade, envolvimento pessoal e testemunho cristão. O que não podemos nos esquecer é de que a Igreja precisa estar presente no ambiente digital como uma casa que acolhe, trazendo uma comunicação que cura, consola e aproxima de forma amorosa as pessoas que se ferem ao longo do percurso.
“Comunicação e família: ambiente de amor, acolhimento e escuta” 646sj
É na família que aprendemos a nos comunicar, é nela que que está o berço da comunicação, ou seja, a escuta e o toque da presença. Isso foi o que afirmou Papa Francisco em sua carta para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2015. Por meio do encontro entre Maria, mãe de Jesus e Isabel, sua prima, a comunicação é vista de forma autêntica, feita de alegria e proximidade. É neste momento que vemos uma comunicação que se inicia antes das palavras, pelo contato afetivo que se fortalece nos laços familiares.
Diferenças? Sim, temos. Família é isso. É onde aprendemos a viver e conviver entre gerações distintas, em um ambiente de acolhimento e escuta. É local de transmissão da fé, do aprendizado, da compreensão dos valores do Evangelho que se reflete nos gestos de solidariedade, perdão e diálogo. Ainda que não sejam perfeitas, as famílias possuem um espaço privilegiado para uma comunicação aberta, criando um ambiente onde se propaga o amor. E é na compreensão do amor que está um dos grandes desafios contemporâneos na oportunidade de se comunicar. Esses desafios são os meios digitais de comunicação. São meios que aproximam as pessoas, mas também podem afastá-las, levando ao perigo do isolamento social. Por essa razão, cabe a cada um de nós usar essas ferramentas de modo consciente, tendo os pais como os primeiros educadores.
A comunicação, quando testemunhada, é capaz de promover o entendimento e valorizar todas as vozes, tornando a família a protagonista da comunicação, pronta para testemunhar o amor e a esperança. É na família que está a base para enfrentar com sabedoria os desafios do futuro, é nesse ambiente que o amor, a paciência e a verdade precisam estar presentes.
“Comunicação e misericórdia: um encontro fecundo” o1c13
O que seria de uma comunicação que expressa ódio e desunião? Na mensagem do Papa Francisco para Dia Mundial das Comunicações Sociais em 2016 é possível compreender que toda forma de comunicação, seja ela por palavras, gestos ou atitudes, deve refletir compaixão, ternura e perdão, que são marcas do amor de Deus. Se o amor é, por natureza, comunicativo, é possível compreender que o verdadeiro amor se manifesta quando nos abrimos ao outro, promovendo a comunhão. Essa é a missão da Igreja: comunicar sem fazer exclusão. Francisco deixa explícito que a linguagem da comunicação eclesial deve irradiar acolhimento, precisa ser como um sustento espiritual, mesmo diante daquelas pessoas que pensam diferente. A riqueza do diálogo acontece entre pessoas que pensam diferente umas das outras, respeitando as diferenças.
A comunicação não acontece de maneira isolada. As palavras têm a capacidade de unir pessoas, faz com que a sociedade supere feridas históricas em busca da promoção da paz e mantenha o diálogo, sem excluir ou condenar as pessoas. É essa comunicação misericordiosa que rompe os ciclos de ódio e de vingança, afinal, para curar as relações, basta comunicar o amor com amor.
Nessa mensagem, Papa Francisco também destaca a comunicação nos meios profissionais, dizendo que a política e a mídia precisam ser inspiradas pela misericórdia, isso não é tarefa fácil, é claro, mas a todo momento, os líderes e formadores de opinião são convidados a abandonar discursos que promovem o medo e a divisão, para adotar uma linguagem conciliadora. A comunicação cristã precisa estar sempre alerta, pois a comunicação que é misericordiosa fica atenta às injustiças, ela não apenas ouve, mas escuta com empatia, humildade e respeito. É ter proximidade, favorecendo encontros que cuidam, acolhem, curam e celebram a dignidade da pessoa humana.
“Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo” 4e3758
Sejam boas ou más, verdadeiras ou falsas, informações são disseminadas instantaneamente por meio das tecnologias. Isso acontece porque a mente humana está, a todo instante, processando informações, criando novos espaços nas redes, transmitindo-as. Em sua carta para o Dia Mundial das Comunicações Sociais do ano de 2017, Papa Francisco encoraja todos os que lidam com a comunicação, profissionalmente ou não, a oferecer conteúdos que alimentem as pessoas com verdade e esperança. Francisco chama atenção, ainda, para que todos saibam superar a cultura do medo e da negatividade, romper o ciclo de angústia causado pelo foco excessivo em notícias negativas, como guerras e escândalos. Não transformar o sofrimento em espetáculo, mas apresentar os fatos de um jeito humano.
É importante haver espaço para boas práticas, acreditar que mesmo nos momentos mais sombrios, o amor de Deus está presente e pode gerar vida nova, lembrando que a esperança, mesmo discreta, transforma a realidade e deve guiar, também, o modo como nos comunicamos, oferecendo luz e sentido no meio do caos. Que sejamos exemplos vivos da Boa Notícia, que sejamos canais vivos para um caminho de esperança.
“Fake news e jornalismo de paz” 1z5t1
Para celebrar o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais em 2018, Papa Francisco se inspirou no versículo bíblico: “A verdade vos tornará livres” (Cf Jo 8, 32), para dizer que a comunicação é um dom, ela é essencial no plano de Deus para promover comunhão, partilhando “o verdadeiro, o bom e o belo”. Por isso, se a comunicação for movida por egoísmo, como se apresenta nas agens bíblicas de Caim e Abel e da Torre de Babel, não seremos verdadeiramente livres.
Ele também destaca que as fake news são usadas para enganar, manipular e proporcionar lucro e poder a grupos destinados a esse fim. As notícias falsas são capazes de explorar emoções e estereótipos, se espalham com facilidade nas redes sociais e criam divisões fomentando o ódio e enfraquecendo a confiança.
Ainda que haja mecanismos de verificação em redes sociais, cada um de nós é responsável na hora de identificar e combater as fake news. É importante buscar fontes seguras, promover a educação midiática e exercer um profundo discernimento para que não seja reada a desinformação, pois ela prolifera, é destrutiva e enganadora. Diante disso, a verdade não se torna apenas um conceito, ela a a ser uma relação, é dela que vem a paz que pode unificar pessoas, grupos e sociedades.
Em ambientes tão cheios de mentiras e notícias falsas, como as redes sociais ou rodas de conversa, o melhor a fazer é buscar pessoas que sejam comprometidas com a escuta, a verdade e o bem. É nessa hora que jornalistas e comunicadores am a ter papel crucial na construção de uma cultura de paz.
“Somos membros uns dos outros: das comunidades de redes sociais à comunidade humana” 1x5z2w
As relações humanas nos fazem questionar: seria possível sermos únicos em nossa individualidade e, ao mesmo tempo, membros de uma construção coletiva nas relações entre as pessoas em diferentes espaços? Este é apenas o início desta reflexão da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2019, mas a pergunta certamente nos leva a pensar que já não é possível separar o que se vive na vida real, aqui e agora, da vida gerada do outro lado da tela do celular e dos aparatos tecnológicos já conhecidos no momento. O mundo das mídias digitais já não se separa da vida cotidiana.
Na carta, Papa Francisco reflete sobre o tema “Somos membros uns dos outros” (Ef 4, 25): das comunidades de redes sociais à comunidade humana. Essa reflexão nos leva a pensar que, por mais possibilidades que as redes sociais possam nos oferecer, é fundamental pensarmos o quanto vale o encontro presencial. Sem dúvida, o espaço na Internet favorece reencontros e alcances inimagináveis, mas é presencialmente que podemos contemplar a realidade da outra pessoa, escutar com o ouvido do coração. As redes sociais podem se tornar espaços que favoreçam as descobertas, locais de encontro entre familiares, amigos, e a comunidade eclesial, se tornando um recurso que conecta as esferas de tempo e espaço, podendo, ainda, ser canais que se transformam em pontes, com o propósito de unir pessoas através do diálogo que pode gerar bons frutos.
Ainda que a vida nos traga diversas formas para nos comunicarmos, ainda que nas redes sociais tenhamos práticas que se diferenciam quando se trata de “real e/ou virtual”, a comunicação como um diálogo, seja no ambiente eclesial, no trabalho, nos círculos sociais, na família, não precisa apenas de um “like”, na verdade, ela busca uma relação verdadeira, que acolhe a todos, sem distinção. Para nós, cristãos, esse é o caminho para deixar a comunicação humanizada.
“Para que possas contar e fixar na memória: A vida se faz história” 211ij
Cada um de nós tem a capacidade de contar sua própria história, pois desde pequenos, temos a necessidade de nos transformar por meio das experiências vividas. Contando histórias, as pessoas começam a compreender a si mesmas, e isso as motiva a enfrentar os desafios.
Mas como nem tudo na vida é da forma como gostaríamos, Papa Francisco, em sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2020, relembra que nem toda narrativa é boa, pois existem aquelas que nos manipulam, enganam e destroem a convivência social. Francisco alerta sobre a violência simbólica e os inúmeros discursos de ódio que existem nos meios de comunicação.
O Papa Francisco, por meio de uma reflexão que faz analogia ás Sagradas Escrituras, reconhece a Deus como um narrador que chama à vida e Jesus é a Palavra que se fez história. As parábolas que Jesus contava, por exemplo, revelam que a vida concreta pode ser cheia de transformações, e isso nos aproxima dos testemunhos.
Não existem histórias pequenas ou insignificantes, todas elas têm dignidade. Somos uma parte na história de Cristo ao construir a nossa própria história. É nessa compreensão que transformamos nossa memória e amos a narrar com amor e misericórdia, colaborando com Deus para reconstruir o tecido da vida.
“Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são” 341ee
“Vem e verás” o que essa afirmação quer dizer? Certamente muitas coisas, mas se podemos ter um consenso em uma delas é a de que a nossa fé não pode e não deve ser baseada apenas na informação ou na crença, mas na experiência de encontrar Jesus verdadeiramente, na fé que sentimos. Esse é o método essencial da comunicação verdadeira sugerida pelo Papa Francisco em sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2021.
Só conseguiremos realizar uma comunicação essencial se sairmos da zona de conforto, diz Francisco, pois necessitamos ir ao encontro das pessoas, escutá-las e testemunhar a realidade com os próprios olhos. Papa Francisco critica o jornalismo que se limita a copiar fontes oficiais e conteúdos da Internet, sem verificação ou contato direto com a realidade. Isso empobrece a qualidade da informação e distancia o comunicador da vida real das pessoas. O jornalismo tem o seu valor e Francisco afirma isso quando elogia os profissionais que arriscam suas vidas para mostrar verdades escondidas, como as guerras, injustiça social e perseguições.
Em uma época devastada pela pandemia da Covid-19, Papa Francisco enxergou o momento como um teste para a comunicação global, pois nessa fase ele alertou sobre o risco de narrativas centradas apenas no olhar dos países ricos, ignorando o sofrimento dos mais pobres. Comunicar de forma justa exige dar voz a todas as pessoas, especialmente àquelas que são invisíveis. Porém, de nada adianta uma comunicação ível se os meios de comunicação, sobretudo as redes sociais digitais, insistirem em se deixar manipular e propagar notícias falsas. As redes precisam ser usadas, mas com discernimento e muita responsabilidade.
A vida se faz, também, no ambiente digital, mas nada substitui o contato direto com a realidade. Ver, escutar e sentir a realidade são condições básicas para transmitir a informação com credibilidade, e Jesus é exemplo disso, porque Ele é a Palavra viva que se fez carne e habitou entre nós. Se o Evangelho de Jesus se espalhou por meio de encontros reais, ou seja, por meio da vida partilhada, a fé também se transmite de coração a coração, pelo olhar, pelo gesto e pela escuta sincera.
“Escutar com o ouvido do coração” 3d5u57
Você tem o costume de escutar mais? Ou de falar mais? Essa pergunta pode parecer simples e, na maioria das vezes, paramos um pouco antes de dar a resposta. A verdade é que, na caminhada da vida, vemos muitas pessoas dispostas a falar, mas é difícil encontrar pessoas que realmente tem disposição para escutar. A escuta vem antes da fala e é a condição para um verdadeiro diálogo, que envolve atenção, acolhimento e empatia.
É fácil perceber que vivemos uma crise de escuta na sociedade, porque vivemos a cultura do monólogo e da imposição de opiniões, principalmente nas redes sociais, ambiente onde cada um de nós pode se tornar criador do seu próprio conteúdo, mas muitas vezes falta escuta nas relações dialógicas. Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2022, se inspira na escuta como dimensão espiritual e bíblica, pois na bíblia o ato de escutar é a base da fé e da relação íntima com Deus, e Ele, por sua vez, nos escuta com humildade e amor.
Escutar com o coração é se permitir, de forma profunda, a se envolver por inteiro e não apenas com os ouvidos. Um “coração que escuta” é sinal de sabedoria, como bem pediu o rei Salomão, ainda que tenhamos vários desafios. Escutar exige de nós paciência, humildade, abertura e disposição para aprender. Implica aceitar verdades inesperadas que a outra pessoa possa nos trazer.
E no jornalismo? Francisco sugere que a escuta por parte desses profissionais seja atenta e sensível. Escutar histórias, sobretudo aquelas que envolvem migrantes/imigrantes é essencial para tentar romper muros e humanizar a informação. E a comunicação na Igreja? Aonde ela se encaixa? Papa Francisco diz que a Igreja precisa ser exemplo de escuta mútua, como um “apostolado do ouvido”, o que é fundamental em nossa ação pastoral, e aqui podemos incluir diretamente a Pastoral da Comunicação (Pascom). Um bom caminho para a Igreja colocar isso em prática é por meio do Sínodo da Sinodalidade, que foi um convite à escuta recíproca, à comunhão e à construção de uma Igreja como “sinfonia de vozes”.
“Falar com o coração” 6h534r
Você comunica com o coração? De acordo com a mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2023, comunicar com o coração é essencial. Depois de refletir sobre ir, ver e escutar, Francisco chega até nós dizendo que só um coração puro e sincero comunica de forma autêntica e eficaz. Uma linguagem cordial e respeitosa pode desarmar corações endurecidos, combater o ódio e promover o diálogo, sobretudo nas redes sociais e na mídia em geral.
A exemplo de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, precisamos praticar uma comunicação afetuosa, e centrada no amor. Para ele, “basta amar bem para dizer bem”. Não é tarefa fácil exercer essa comunicação que tem o amor como centralidade na ação, e para que isso aconteça, precisamos continuar a prática da escuta. Dentro da Igreja, a escuta mútua deve levar a uma comunicação que cura, ilumina e aproxima.
Ainda que seja em tempos de guerras e polarizações, é urgente que se encontre uma comunicação desarmada, que busque a reconciliação e evite a retórica violenta e manipuladora. É por isso que, na mensagem, Papa Francisco convoca a todas as pessoas, especialmente os comunicadores, a assumirem sua missão com responsabilidade, promovendo uma comunicação livre, limpa e verdadeiramente cheia de ternura, que transforma corações e constrói a paz.
“Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana” 233w26
A Inteligência Artificial (IA) está transformando profundamente a comunicação, e na Igreja não seria diferente. A convivência social tem sofrido impactos significativos com essas mudanças e nossa resposta à tecnologia precisa vir da sabedoria do coração, entendida como escuta, discernimento e espiritualidade profunda. Isso é o que defende Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2024.
A IA pode, e deve, ser instrumento de serviço e liberdade, sem se deixar levar pela dominação e a manipulação. Seu uso deve estar orientado pelos valores humanos, pois as máquinas não possuem discernimento ético. Francisco alerta para a “população cognitiva” com fake news e deep fakes, destacando que a Inteligência Artificial pode distorcer a verdade, gerar pensamento único e alimentar a desunião, o que enfraquece o pluralismo e a convivência democrática. Preocupado com os rumos que a IA tem tomado, Papa Francisco chegou a propor, inclusive, um “tratado internacional vinculativo” sobre o uso da mesma, afinal, será que estamos sabendo usufruir dessa tecnologia avançada?
É diante dessa revolução digital, constatada na sociedade contemporânea, que surge a preocupação da Igreja em fortalecer o valor da pessoa humana, pois a comunicação deve preservar a experiência, o rosto, o olhar, a compaixão, tudo aquilo que demonstra realidade humana. A partir disso, diante das diferentes tecnologias que emergem, como os comunicadores podem garantir o pluralismo, a transparência e a responsabilidade nas plataformas digitais? Como democratizar o o à IA e evitar novas desigualdades? Seria possível isso? A resposta depende de nós. Podemos escolher entre “uma nova escravidão digital” ou “um caminho de liberdade e sabedoria compartilhada”. A sabedoria na hora da nossa resposta nasce com o tempo, é por meio do diálogo entre gerações e da escuta com toda a sociedade.
“Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” 17341b
Por fim, chegamos à última carta escrita pelo Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, neste ano de 2025. De um modo muito especial, sensível às suas dores e inquietações, caminhando para seu silêncio terreno rumo à glória eterna, Papa Francisco nos presenteou, humildemente, com uma mensagem que afirmou o que os comunicadores da Igreja sempre prezaram ao longo dos 12 anos de seu pontificado.
Em tempos de desinformação e controle das informações por centros de poder, Papa Francisco destaca a importância do trabalho dos comunicadores com responsabilidade pessoal e coletiva. Ele pede que sejamos todos “comunicadores de esperança”, inspirados pelo Evangelho e pelo espírito do Jubileu. Mais do que isso, Francisco convida para “desarmar a comunicação”, uma comunicação que, por vezes, espalha medo, ódio, preconceitos e rancor. A urgência em “desarmar a comunicação” é para livrá-la da agressividade, da manipulação e da lógica do inimigo.
Para chegar a essa preocupação, o Papa nos conecta ao Evangelho lembrando que a esperança é uma virtude essencial, mas não podemos enxergá-la como ingênuo otimismo. É preciso ter um “esperançar”, mesmo quando tudo parece perdido, ter a esperança que transforma vidas, sonhar uma nova comunicação onde seja possível dar voz aos que sofrem, promover o diálogo sem vender ilusões, que nos tornemos “peregrinos da esperança”, próximos e comprometidos com o outro. Para além disso, não nos esqueçamos da esperança comunitária, viver em conjunto o que o Jubileu propõe, comunicar histórias ocultas de bondade como “garimpeiros” de esperança, prezar sempre por uma comunicação que une, que cura e que mostra que não estamos sós.
Mas antes de terminar, este artigo não poderia deixar de refletir o que Francisco ressaltou em sua última carta para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Ele pede que cada comunicador cuide da vida interior, deixando que o coração guie a nossa forma de nos comunicar. Ele também incentiva uma comunicação não instintiva, mas “madura e cuidadosa”, que possa construir pontes e promover cultura do cuidado. E não nos esqueçamos de um pedido especial do Papa Francisco: sejamos todos testemunhas e promotores da esperança, escrevendo juntos a história do nosso futuro.
Janaína Gonçalves é Jornalista, Mestre em Ciências da Religião, Especialista em Gestão de Mídias Digitais, Especialista em Comunicação e Inteligência Artificial, Especialista em Teologia Pastoral. É Analista de Comunicação na Secretaria de Comunicação da PUC Minas e na Arquidiocese de Belo Horizonte. É Coordenadora-geral na Pascom Brasil, é membro do Observatório da Comunicação Religiosa e membro do Grupo de Pesquisa Mídia e Religião.
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS 4g5i1s
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Mensagem para o XLVIII Dia Mundial das Comunicações Sociais: Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro. 2014. Brasília: CNBB, 2014. Disponível em: https://w2.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/papa-sco_20140124_messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 22 de abril/2025.
Mensagem para o 49º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Comunicar a família: ambiente privilegiado do encontro na gratuidade do amor. 2015. Brasília: CNBB, 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/papa-sco_20150123_messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 22 de abril/2025.
Mensagem para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo. 2016. Brasília: CNBB, 2016. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/papa-sco_20160124_messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 22 de abril/2025.
Mensagem para o 51º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo. 2017. Brasília: CNBB, 2017. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/papa-sco_20170124_messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 22 de abril/2025.
Mensagem para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Fake news e jornalismo de paz. 2018. Brasília: CNBB, 2018. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/papa-sco_20180124_messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 22 de abril/2025.
Mensagem para o 53º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Somos membros uns dos outros: das comunidades de redes sociais à comunidade humana. 2019. Brasília: CNBB, 2019. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/papa-sco_20190124_messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 22 de abril/2025.
Mensagem para o 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Para que possas contar e fixar na memória. A vida se faz história. 2020. Brasília: CNBB, 2020. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/papa-sco_20200124_messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 23 de abril/2025.
Mensagem para o 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Vem e verás. Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são. 2021. Brasília: CNBB, 2021. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/papa-sco_20210123_messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 23 de abril/2025.
Mensagem para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Escutar com o ouvido do coração. 2022. Brasília: CNBB, 2022. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/20220124-messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 23 de abril/2025.
Mensagem para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Falar com o coração. Testemunhando a verdade no amor. 2023. Brasília: CNBB, 2023. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/20230124-messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 24 de abril/2025.
Mensagem para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana. 2024. Brasília: CNBB, 2024. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/20240124-messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 24 de abril/2025.
Mensagem para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações. 2025. Brasília: CNBB, 2025. Disponível em: https://www.vatican.va/content/sco/pt/messages/communications/documents/20250124-messaggio-comunicazioni-sociali.html . o em 24 de abril/2025.